A área atingida pelos 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro em Brumadinho, MG
Como o cenário mudou após cinco anos do rompimento da barragem da Vale
No dia 25 de janeiro de 2019, a cidade de Brumadinho, localizada em Minas Gerais, foi palco de uma das maiores tragédias ambientais do Brasil. A barragem de rejeitos de minério de ferro da Vale rompeu, liberando cerca de 9,7 milhões de metros cúbicos de lama tóxica. O desastre causou a morte de centenas de pessoas e deixou um rastro de destruição na região.
Cinco anos após o rompimento, a região afetada ainda está passando por transformações significativas, resultado das estratégias adotadas pelos bombeiros nas buscas às vítimas e das obras de reparação realizadas pela mineradora.
A situação atual
Desde o desastre, cerca de 75% dos 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeito já foram vistoriados. Esse material passou por uma inspeção minuciosa dos bombeiros, que buscavam corpos, segmentos de corpos e objetos que pudessem ajudar na localização e identificação das vítimas.
O trabalho dos bombeiros está concentrado em cinco estações de buscas, que começaram a operar em setembro de 2021, marcando o início da 8ª fase da operação. Durante as buscas, foram encontrados segmentos de corpos que permitiram a identificação de quatro novas vítimas, sendo a última delas em dezembro de 2022.
As estações de buscas estão localizadas na área em que funcionava o terminal de cargas ferroviário da mina. Esse terminal ficou conhecido em um vídeo amplamente divulgado logo após o rompimento da barragem, onde a lama avança e cerca uma caminhonete e uma escavadeira.
Nos três primeiros anos da operação, as buscas eram realizadas ao longo dos 10 km de extensão afetados. Com o avanço dos trabalhos, os bombeiros passaram a contar com máquinas para escavar o rejeito, que em alguns pontos chegava a quase 20 metros de profundidade. Atualmente, o material é levado até os bombeiros nas estações de busca.
Apesar das transformações, ainda é possível observar os vestígios da barragem rompida. Cerca de 2 milhões de metros cúbicos de rejeito permanecem no local, cobertos por vegetação rasteira.
Impactos nas estruturas
Diversas estruturas foram afetadas pelo rompimento da barragem. O pontilhão da linha férrea, por exemplo, teve duas pilastras levadas pela lama e permanece incompleto. Era por meio desse pontilhão que os trens transportavam minério carregado no terminal ferroviário ao pé da barragem.
A base operacional dos bombeiros, montada inicialmente na igreja e no campo de futebol do Córrego do Feijão, continua em funcionamento. Após 27 dias nesses locais, os bombeiros ganharam uma segunda base, a Bravo, instalada em um clube da antiga vila de funcionários da mineradora, próxima à portaria da mina.
A área afetada pela tragédia também passou por obras de reparação realizadas pela Vale. Foram construídas barreiras e diques para conter o avanço do rejeito, além da recuperação do leito do córrego Ferro-Carvão, que foi tomado pela lama. Entretanto, estima-se que cerca de 140 hectares de floresta nativa tenham sido perdidos.
Para garantir a segurança da área de buscas, ela está cercada e o acesso é controlado pela Vale. Apenas pessoas autorizadas, equipadas com os devidos equipamentos de segurança e acompanhadas por batedores, podem ingressar no local.
Funcionamento das estações de busca
As estações de busca são compostas por equipamentos de mineração adaptados para a operação. O rejeito retirado da área de buscas é transportado por caminhões até a estação, onde passa por esteiras que separam o material mais espesso do mais fino. Esses materiais são vistoriados pelos bombeiros em busca de objetos de interesse.
A inspeção é feita a partir de uma cabine climatizada, visando proporcionar melhores condições de trabalho para os bombeiros. A escala de trabalho é de duas horas por duas de descanso, com revezamento entre as duplas de bombeiros.
Quando um segmento de corpo ou objeto de interesse é encontrado, o bombeiro deixa a cabine e vai até a esteira verificar a suspeita. Todo material suspeito é recolhido e posteriormente analisado por peritos da Polícia Civil.
A equipe de buscas é composta por 14 bombeiros, que são distribuídos entre as estações de busca e a parte administrativa. A troca de equipes ocorre semanalmente, garantindo o revezamento e descanso adequado dos profissionais.
Duração das buscas
Em respeito aos familiares das vítimas e por determinação do governador Romeu Zema, as buscas não têm um prazo definido para encerramento. A pedido das famílias e por questões humanitárias, as buscas devem prosseguir até que sejam encontradas as três vítimas que ainda estão desaparecidas.
As buscas em Brumadinho já contabilizam mais de 1.800 dias de trabalho ininterrupto. Mesmo com as interrupções causadas pela pandemia de COVID-19, as estratégias foram elaboradas pelas equipes de bombeiros, com a colaboração de especialistas, tornando essa operação a maior de buscas e salvamentos do mundo.
É importante lembrar que o número oficial de mortos é de 270, porém as famílias contam 272 vítimas, uma vez que duas delas estavam grávidas no momento do desastre.
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